quinta-feira, 11 de março de 2010

As canções são culpadas?

Frequentemente recebo por e-mail aquelas mensagens que são ou para ser engraçadas ou mesmo para provocar algum tipo de reflexão. Geralmente são anônimas ou atribuídas a algum autor famoso. Numa delas, atribuida a Verissimo, questiona-se a qualidade das músicas populares (leia-se comerciais) brasileiras. De certa forma, a mensagem é bastante engraçada, na medida em que relaciona essas músicas com drogas que viciam. Mas a mensagem que me deixou, no mínimo, encabulado, foi uma recebida no começo da semana. Reproduzindo livremente, nela associa-se o fracasso do Brasil, os traumas que temos, com os temas das canções para crianças oriundas do repertório popular. Nessa mensagem, comentam-se cantigas como boi da cara preta, nana neném, o cravo brigou com a rosa, etc. Assim ressalta-se o problema das ameaças contidas nas músicas (pega essa menina que tem medo de careta, nana neném que a cuca vem pegar) ou mesmo o sadismo de outras (atirei o pau no gato). No fundo o texto como um todo passa uma impressão de que tudo está errado, de que o Brasil e o brasileiro não sabem como tratar as crianças, de que com músicas desse tipo não há o que esperar de nós.
Acho bastante complicado pensar dessa forma, por inúmeros motivos, mas um dos que me motiva a escrever sobre isso é meramente histórico. Vivemos num tempo em que se confundem muitas coisas. Os direitos da criança, do adolescente, por exemplo, são muitas vezes, motivo para que pensemos que eles devem ser privados de certas coisas. Há pais, que não querem que seus filhos estudem com livros que demonstrem a desigualdade social, bem como há aqueles que acham que a educação não deve passar pela chatice da bronca, da imposição de limites, etc. (criando um monte de monstrinhos). No caso das cantigas populares, temos que ter pelo menos uma ideia em mente, trata-se de (acho que é uma tautologia) cantigas populares (aqui no sentido de folclóricas, que "sempre" estiveram por aí), que foram produzidas há muito tempo, quando a criança talvez nem fosse nomeada como tal. Não é ideal olhá-las com os olhos de nossa época, apenas. O que fazer então com essas cantigas? Devemos esquecê-las e cantar, coisas como o xuxucão para as criancinhas. Não acho que seja por aí, mesmo porque isso, em certa medida, é também esquecer um passado, que é nosso e por isso não deve ser esquecido, é também negar uma cultura, que também é nossa...
Mas ainda é possível ver na mensagem uma comparação nítida entre culturas muito diversas. O texto inicia fazendo menção às cantigas norteamericanas, nas quais (segundo o texto) não há nenhum tipo de ameaça, etc. etc. Será que é por isso que eles não querem parar de poluir o planeta? ou teimam em invadir terras com uma fúria terrorista contra um terrorismo por eles próprios criado?
Ainda a título de comparação, o que dizer das histórias infantis que vêm de fora? Elas também não têm a sua dose de sadismo contra os animais? (vejam a figura do lobo...). Todavia devo abrir a guarda e reconhecer que uma mensagem como essa é um belo material para revelar o quanto nós brasileiros valorizamos o que é dos outros e desvalorizamos o que aqui temos. Sem se dar conta que talvez as coisas de cá e de lá são da mesma natureza. E só.

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