sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Referencial

Surpreenderam-me, neste final de ano, os trabalhos de final de curso dos alunos de primeiro e segundo ano do EM, não pelo que sempre surpreendem (desleixo, cópias, etc.), mas pela qualidade (ou, pelo menos, pela tentativa dela). Foram trabalhos de produção textual que demandavam certo empenho, já que os alunos deveriam simular um programa de rádio ou TV e depois transformar ou a entrevista ou a reportagem em um texto escrito. Parabenizo, portanto, aqueles que se empenharam nesse trabalho.
Porém, como não poderia deixar de ser, trago aqui algumas reflexões que andei fazendo no decorrer das apresentações dos trabalhos acima descritos. De um modo ou de outro, para mim, a figura do professor acabou saindo fortalecida, já que nas produções de entrevistas, muitos estudantes recorreram à figura do professor para resolver algumas questões polêmicas pelos próprios alunos destacadas.
Ocorre que o professor acaba sendo o único (e talvez o último) referencial teórico para os estudantes. Aquele que de algum modo manipula uma informação, possui uma capacidade que o aluno ainda não tem de filtrar o conhecimento. Obviamente que as informações pipocam por aí, estão no Google, estão em todos os cantos. Mas manipular essas informações é mais complicado do que parece. Esse trabalho que meus alunos fizeram só faz reforçar uma intuição: o professor deve reassumir seu lugar, portar-se como um sujeito que tem sim algo a ensinar, manter-se nessa posição de referencial. O ruim é que cada vez menos temos referenciais, cada vez mais o professor perde sua identidade. Isso, ao contrário dos trabalhos de meus alunos, é muito ruim.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Dois textos. Uma questão discursiva

A RCC é um dos movimentos que obtiveram mais espaço na atual igreja católica. Esse grupo publica uma revista, tem uma TV, todas com o mesmo nome "Canção Nova". Li, por curiosidade, duas dessas revistas, essencialmente, os artigos publicados por um dos fundadores do movimento. Esses dois artigos, sinceramente, deixaram-me, no mínimo, preocupado. No primeiro, o fundador da "Canção Nova" discute como foi motivado a evangelizar os jovens. Até aí tudo bem, evangelizar é a função de qualquer tendência da igreja (embora pareça razoável discutir o que é evangelizar para cada uma das tendências). A coisa degringola quando o autor passa a dizer que eles (da Canção Nova) foram esclohidos por Deus, e pior: primeiro. Então há um povo escolhido? Assim como haveria supostamente para os arianos uma raça pura? Estranho, não?
Num segundo artigo, a palavra do fundador trata de como a música (a Canção Nova) é essencial na evangelização. Novamente nenhum problema. É fato que a música nas igrejas, há muito tempo, ocupa lugar especial (vejam por exemplo os cantos gregorianos), o problema do texto é outro e de outra ordem. Lá pelo final do texto, o autor revela sua posição diante do que ele considera as outras músicas. O que fica claro é que não há nenhuma hipótese de se aceitar as outras músicas, visto que fica dito no texto que é preciso execrá-las, expurgá-las. Ora que posição é essa senão aquela que historicamente proibiu, queimou, censurou livros e outras produções culturais. É preciso ter cuidado.
Fica latente, portanto, uma posição discursiva conservadora, já que não se aceita o diferente, a diversidade. E com uma máscara de venham a mim, celebra-se, na verdade, a segregação... da pior espécie.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Educação e Improviso

Infelizmente temos assistido, nos últimos tempos, a uma tentativa de culpar professores por todas as mazelas educacionais brasileiras. Estas, muitas vezes, geradas por políticas públicas desconectadas entre si, que são essencialmente partidárias. Em São Paulo, por exemplo, nem isso, já que temos no poder um mesmo grupo controlando a educação há mais de dez anos, e eles não se entendem. Aqui a coisa é pior: temos políticas pessoais, nem partidárias são. Mas o que proponho como tema de discussão é a institucionalização do improviso como uma prática didática. Isso é muito comum, infelizmente. Se não tem o livro, passa na lousa, se não tem o cd, pirateia, se não tem biblioteca, junta os livros numa caixinha, se não tem equipamento esportivo joga com bola de meia, salta com bambu... Será que não é preciso investimento em educação? Basta os professores adotarem o jeitinho brasileiro? Improvisar é a solução para tudo mesmo? Vamos parar de babosear e considerar a educação como algo sério, já que lidamos com seres humanos. Não deveríamos, portanto, tentar experimentar como se alunos fossem ratos de laboratório. Uma leitura errada de uma teoria pode fazer fracassar a aprendizagem de toda uma geração. Recentemente li na Folha que somente investir em educação não traz melhorias, que isso é um mito. Ora, obviamante, que SOMENTE isso não melhora, mas isso aliado a outras coisas, não é? Mas parece que o que se quer mesmo é investir (não financeiramente, claro...) no poder de criatividade do professor brasileiro...

Imprensa

Só para começar: um pouco de mau humor sempre é válido. Recentemente o governo federal lançou a bolsa celular e o jornalista Dimenstein falou na CBN que o programa provavelmente é eleitoreiro. Tudo bem, que seja eleitoreiro... Mas dias antes o mesmo jornalista dizia, sobre a lei aprovada pela assembleia estadual paulista (e de autoria do executivo estadual) que institui a remuneração de docentes por mérito, que isso mudaria a história da remuneração no país, que faria escola e bláblá. "Esqueceu", no entanto, de dizer que o projeto do governo estadual não vai conseguir atingir nem os 20% que o governo diz que atingirá, pois tem um monte de regras que todo mundo sabe que é quase impossível de cumprir. Esqueceu de dizer, também, que o projeto foi divulgado amplamente na mídia e aos próprios docentes através de carta mesmo antes de sua aprovação em assembleia (será isso eleitoreiro? um projeto que faz obaoba com a educação e que não vai trazer melhorias aos péssimos salários pagos aos professores?) e que o projeto praticamente congela o salário inicial dos docentes. Acho que alguém tem que perguntar ao jornalista quanto valerá R$ 6000,00 daqui vinte anos...
O jornalista precisa explicar por que certas coisas são eleitoreiras para uns e não são para outros. Até!